sexta-feira, 29 de abril de 2011

O GATO QUADRADO



Tareco era quadrado, ou precisando: aproximadamente cúbico. Aninhava-se com discrição e facilidade nos cantos da casa e empacotava-se com facilidade na mala do carro quando os Mendes iam de férias. O único que não saia nunca de casa, nem para comprar o jornal, era o velho avô Mendes. Passava o dia a tentar criar colónias de algas debaixo das unhas, que depois raspava com uma navalha para uma gaveta que já estava quase cheia, em virtude de um esforço de quase cinquenta anos. Um dia, o Tareco foi dormir a sesta para essa gaveta e entreteve-se a mascar bolas de húmus sub-ungicular e alguns bichos que lá se criavam. Passaram horas e mascar esterco das unhas revelava-se viciante. O animal empanturrou-se e adormeceu. Á hora do jantar, espreguiçou-se e preparou-se para abandonar a gaveta. Mas foi em vão: a sua forma quadrada tinha dado lugar a uma esfera, pelo que não conseguiu sair da gaveta. Lutou em vão durante horas até que se cansou. Sobreveio a fome até que comeu mais esterco das unhas. E assim passaram dias, semanas, meses, quase afogando-se no seu próprio excremento. O avô Mendes foi dar com ele quase inanimado ao cabo de um esforço de quase cinquenta anos. Um dia, o Tareco foi dormir quando os Mendes iam de férias. O único que não saia nunca de casa empacotava-se com facilidade na mala do carro, onde Tareco foi dormir a sesta com os bichos que lá se criavam que depois raspava com uma navalha. Todos, passaram horas a mascar esterco das unhas até á hora do jantar e criaram colónias de algas debaixo das unhas até as suas formas quadradas darem lugar a uma esfera, pelo que não conseguiram sair da gaveta. O próprio excremento do avô Mendes foi dar com eles quase inanimados, ao cabo de um esforço de quase cinquenta anos. Um dia, foram dormir quando alguns bichos que lá se criavam iam de férias, empanturraram-se e adormeceram. O único que não saia nunca de casa empacotava-se com facilidade na mala do carro, onde Tareco foi dormir a sesta com os bichos que lá se criavam que depois raspava com uma navalha. Nas férias, entretiveram-se a mascar bolas de húmus sub-ungicular e alguns bichos que lá se criavam. Lutaram em vão durante horas até que se cansaram. Sobreveio a fome até que comeram mais esterco das unhas e compraram o jornal.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A ROSA



Muita coisa a fazia rir, especialmente quando ela própria atropelava algumas palavras com o mesmo riso e se assemelhavam a algo inocentemente malicioso. Foi na segunda década do século passado que se casou, numa aldeia, por entre lanternas mágicas ambulantes com imagens da I Grande Guerra, lobos, pilhas de carvão de azinho fumegantes, uma mãe que comia tachadas de alhos fritos como jantar e bailes, muitos bailes, ao mero som de uma harmónica tocada até sangrarem os lábios do tocador. Muitas vezes, ora apenas nos versos ou timidamente trauteadas, essas músicas, chegaram aos meus ouvidos, sessenta ou setenta anos depois. Eram músicas cantadas pelos ranchos que iam mondar, apanhar azeitona ou ceifar campos a muitas léguas e muitas horas de caminho da aldeia. Três ou quatro da manhã para chegar ao alvor.

Uma rival de amores, mais atrevida ou em desespero de causa, foi deitar-se na cama de um ébrio noivo na noite despedida de solteiro e isso soube depois toda a aldeia. Raiva, despeito e uma aversão a corpos estranhos ao seu sangue não terão facilitado a intimidade desse matrimónio. E a liberdade possível de cantar e bailar também ficou para trás com o casamento. Só, nos montes, enquanto o marido guardava varas e rebanhos, capava porcos e com eles percorria montados, dormia em valetas e à chuva; temeu que malteses se fizessem ao roubo e sabe-se lá que mais; mas isso nunca aconteceu e os filhos foram nascendo e criando-se. Depois, a cegueira de três anos, vinda da alma, pois o médico que a tratava por ‘tu’ ou virtuoso que tinha um crucifixo dentro de uma garrafa, nada lhe encontraram. E as sezões, que eram malária apanhada nos arrozais apesar de ninguém lhe chamar esse nome, deixou-a mais anos seguidos de cama. Era nos delírios da febre e nos pesadelos, que chegou a filha mais nova a ouvir muitas vezes arrepiada, que cantava. Depois, o filho mais velho, de que retenho na memória apenas um auto-retrato a lápis, morreu num sanatório e passou ela a vestir-se de preto. Uma prima, que esteve temporariamente lá em casa, também se deitou com o marido. A chave de uma misteriosa arcazinha, foi encontrá-la no meio de uma seara e assim teve as provas da intimidade deles (uns preservativos, presumo eu). Décadas depois, ‘a tua prima’ era uma interjeição que usava quando se dirigia ao marido, que só compreendi depois de me contarem esse evento. Das partes em que, depois de velha, sofreu com doenças só referirei que teimosamente se levantou, vez após vez e sempre todos vaticinaram o seu entrevamento definitivo. Voltava a cantar e a dizer versos. Quando morreu e só lá estava eu, absolveu-me de lhe ter dado com uma sachola na cabeça quando eu tinha quatro anos, pois de mais nada enquanto viveu comigo me acusou ou julgou; antes contava-me histórias que ia inventando no momento. Apesar de a ter visto sempre de preto, o vestido que guardou para que lhe vestissem depois de morta era colorido e ás flores. Eram rosas grandes em fundo castanho e creio que esteve guardado desde os tempos de solteira.

terça-feira, 26 de abril de 2011

A ver se...

















...têm dentes para isto, seus panilas do ca...raças!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Presos com direito a sexo uma vez por mês

(in DN.ptHoje)


"Esta é uma das novas medidas do novo Regulamento Geral dos Estabelecimentos prisionais, publicado ontem em Diário da República. Os reclusos que estejam na prisão há mais de seis meses vão ter direito a um encontro sexual por mês, escreve a edição de hoje do "Correio da ManhA". Para tal, os estabelecimentos prisionais vão ter que criar condições. Este novo regulamento também abrange os homossexuais."


Ele há gente com sorte.



segunda-feira, 11 de abril de 2011

Naked Chicks With Guns


terça-feira, 5 de abril de 2011

PÓ DE PROJECÇÃO



Excerpto do Diário de José Nunes (1867-1943), doutor em medicina que estudou em Inglaterra.

(…) Estava atado com uma corda de juta, um semi-bolorento palimpsesto esquecido do acervo de John Dee da Biblioteca da Abadia de St. Eclair-on-Thames. Era uma tradução em árabe medieval de um manuscrito copta do século II A.D. Uma liberal interpretação de Thomas Moore atribuía-o a Ibn-Rushd ou Averróis, sendo que o primeiro o adquiriu provavelmente já interpolado por copistas medievais, a um certo Philalette, alfarrabista de Paris. É um texto alquímico eivado de alegoria e simbolismo e fazendo fé no inglês quinhentista de Moore, reza assim:

Da decantação do Mercúrio em seu espírito do Sal, casa-se este com o Enxofre em fecundo Ovo, que ao negro, calcinado ao branco, seis vezes no athanor, pulverizado em ágata e envolvido numa noz de cera é o pó de projecção; e diluído oito vezes numa onça em um quartilho de orvalho é o Oiro Potável de Mercurio Trimegisto, que transformando misticamente o tomador da Obra Magna da Real Arte, o vem transfigurar em Glória e juventude (…)

Li nestas palavras a receita do Elixir da Juventude e assim tomei cinco partes de vitríolo, uma de bosta de vaca fermentada com sémen, pus, sangue e um quisto hidático esborrachado e ainda meia de urina, duas de cinábrio e uma de mercúrio e iniciei a moenda no almofariz de ágata, pela segunda hora. Cozi ao rubro esta bola no athanor durante duas semanas e logrei obter a Obra ao Negro. Calcinei e dissolvi, coagulando, duas e mais vezes e logrei a temperatura certa que conduz, após cerca de quinze dias ao Ovo Filosófico, que novamente calcinando renasce em Glória qual Phénix das suas próprias cinzas e é a Obra ao Branco: um pó amarelado de brilho furta-cores. Preparei a diluição em orvalho recolhido em lençóis todos os dias de manhã e assim tomei o Oiro Potável e esperei o resto da noite até de manhã. (…)

De manhã tinha duas cabeças, com coroas de rei e rainha, um par de mamas, esvoaçava em torno de mim uma alva pomba com murta no bico entre um sol e uma Lua e os meus pés poisavam por sobre um pelicano. Um pentáculo com símbolos cabalísticos brilhava sobre a minha cabeça, uma cobra mordendo a cauda volteava em meu redor e dei-me por satisfeito. Seguido por esta parafrenália, fui neste preparo para a rua, ás duas da manhã, onde fui sodomizado com brutalidade por dois limpa-chaminés desdentados atrás de um monte de carvão e julgo que nada terei ganho com esta empresa. Duas purgas, uma sangria, aplicações de sanguessugas medicinais e pachos calmantes de artemísia e borato já me devolveram, três dias depois ao meu estado normal, fora uma estrelinha cintilante que ainda me orbita a cabeça. Só espero ter anotado com precisão a morada dos limpa-chaminés’.

segunda-feira, 4 de abril de 2011